NO MEIO DA PEDRA TINHA UM CAMINHO
Pollyanna Freire
OPENING
17 de mai. de 2023
CLOSING
9 de jun. de 2023
O conjunto das “experimentações” que agora se apresentam pelo traço da
Pollyanna Freire, são ensaios com uma escala que nos permitem interpretar a
verdadeira natureza do seu pensamento. A escala reduzida, alicerça o seu
processo gráfico, assumindo-se como um meio de mediação entre a dimensão da
folha de papel e a escala urbana, que um dia a sua obra configurará com certeza.
Aparentemente, o desenho é fundamental na estruturação do caminho entre
pensamento e a existência das peças, contudo, acreditamos que os exercícios de
construção em escala reduzida permitem-lhe incorporar o objecto e estabelecer
um diálogo entre peças, mas acima de tudo, incutir-lhes referenciação espacial
mesmo quando isoladas. A concepção é metódica e estruturada, e nessa medida
as peças que servem de consolidação do processo, por incorporarem a
objectividade e definição conceptual de Pollyanna, permitem, a outra escala,
identificar universos paralelos com a mesma substância. À imagem da
circunstância dos habitantes da Ilha de Liliput. Se a nossa relação com a
dimensão “menor” das peças não produz menos efectividade na expressão das
mesmas, pelo contrário, revela um robusto eclectismo na constituição de novos
universos (mesmo que a uma escala doméstica).
A expressão da sua obra, traduz-se no desenho de uma bidimensionalidade
ficcionada sobre o infinito, permitindo-nos a nós, caminhar na vertigem sobre o
limite do que será o “outro lado do espelho”. Uma fronteira invisível entre a
realidade e o vazio, onde o desenho é quem traça a iminência. Tal como João
Pinharanda afirma, as suas peças “são apreendidas visualmente como se
estivéssemos a vê-las serem desenhadas no espaço”, sendo o movimento do
observador o rastilho na sua interpretação. A imobilidade é ficcionada entre
arestas, planos e sombras, concretizando perenes vazios nos seus núcleos,
contudo o movimento de interpretação pelo espectador torna-se motor na
activação do objecto perante a sua depurada envolvência. Neste duplo
movimento em torno e através dos vazios, construímos a cartografia da “dança”
entre peças, harmonizando com o nosso movimento a polifonia entre delicadas
estruturas cromaticamente distintas.
O domínio cromático entre peças, a reinterpretação do espaço através do
movimento cru do traço e a flexibilidade das peças na transição entre escalas
consubstanciam a expressão de um movimento elíptico na construção de novas
formas sobre o vazio. A subtileza deste confronto é profundamente reveladora
da singularidade da obra de Pollyanna.